NYTimes
Construir uma carreira não é mais o que costumava ser - e não estamos falando da economia crepitante nem da taxa de desemprego de 13,3 por cento entre os jovens de 20 a 24 anos. Os jovens formados que entram no mercado de trabalho estão complementando e, por vezes, driblando a rotina tradicional de procura de vagas de emprego, que consiste em filtrar anúncios e enviar currículos. Eles estão usando os recursos da Internet para construir uma reputação, demonstrar habilidades e dar aos empregadores uma ideia muito mais clara dos seus pontos fortes.
MSN
"O currículo está deixando de existir como forma de representar quem é a pessoa", diz Launa Forehand, da Jobspring, uma agência de recrutamento do Vale do Silício especializada na contratação de profissionais de nível iniciante e júnior. Os candidatos a emprego que procuram preencher os cerca de 300 mil novos postos de trabalho em tecnologia da informação cuja criação é prevista pela Agência de Estatísticas do Trabalho dos EUA para o período entre 2008 e 2018 - um crescimento de 30 por cento - estão mostrando seu valor por meio da participação em comunidades online, e os empregadores estão usando cada vez mais esse meios para encontrar ou vetar candidatos.
MSN
Esse novo ambiente de procura de vagas de emprego afeta pessoas de todas as idades, mas os trabalhadores mais jovens podem ter uma vantagem: eles não têm vergonha de colocar sua vida na rede. "A geração do milênio está mais disposta a se expor, e não apenas as coisas boas a seu respeito", diz John Hagel, diretor do Centro de Inovação Deloitte e coautor de "The Power of Pull: How Small Moves, Made Smartly, Can Set Big Things in Motion" ("O poder do impulso: Como pequenas mudanças, feitas de forma inteligente, podem colocar coisas grandes em movimento", em tradução livre). "Estar disposto a compartilhar o que não se sabe e procurar ajuda para resolver problemas nos quais se está trabalhando são maneiras muito poderosas de atrair pessoas que têm interesses em comum."
MSN
Ter uma forte reputação online está permitindo que alguns candidatos a empregos que possuem qualificações limitadas evitem a fase da carreira em que a maioria das pessoas costuma ganhar experiência e passem diretamente para um cargo de nível superior. "As redes podem ajudar a viabilizar atalhos no percurso profissional da pessoa, fazendo com que se alcance um cargo mais valorizado e melhor remunerado muito mais rápido do que costumava ser no passado", diz Hagel.
MSN
Vejamos o caso de David Herrema, por exemplo. Aos 22 anos, ele estava à deriva em uma universidade desconhecida. Agora, aos 26, ele trabalha há dois anos como desenvolvedor sênior de software da empresa de consultoria Accenture. Sua arma secreta foi a rede comunitária SAP, um ambiente online criado pela gigante de softwares empresariais SAP para reunir uma vasta comunidade de pessoas que trabalham com seus produtos. A rede abriga artigos, blogs e fóruns de cerca de dois milhões de clientes, consultores e outros usuários.
MSN
No início, Herrema, que realizou um estágio de manutenção nos servidores da SAP sediados na Universidade Estadual Grand Valley, em Michigan, entrou na rede para pesquisar correções de bugs e dicas de configuração. Em seguida, passou a contribuir com comentários e vídeos. O que ele escreveu sobre práticas empresariais ecologicamente seguras chamou a atenção dos organizadores da conferência TechEd, da SAP, que o convidaram para falar no evento. Mais tarde, ele ganhou um concurso de ideias inovadoras de marketing patrocinado pela SAP.
Ao se reunir com a Accenture, Herrema levou as habilidades e a confiança que ele acredita que lhe fizeram ganhar uma vantagem de dois anos frente aos seus colegas. "Eu me expus ao extremo", diz ele, "mas eu queria que todos soubessem: olhem o que eu, graduado em uma faculdade desconhecida, sei comparado aos garotos da Universidade Estadual de Ohio que vocês estão contratando".
MSN
Enquanto Herrema explorou uma rede construída pela SAP para divulgar os produtos da própria empresa, outros estão se beneficiando de comunidades mais independentes. Um deles é o mexicano Jordi Muñoz, diretor-executivo da 3D Robotics, fabricante de kits de veículos aéreos não tripulados. Em 2007, Muñoz, com ensino médio completo, estava à espera de um cartão para residência permanente nos Estados Unidos quando conheceu o fundador e presidente da empresa Chris Anderson (editor-chefe da Wired) no DIY Drones, um grupo do site Ning.com que Anderson tinha criado para falar de veículos aéreos não tripulados feitos em casa.
MSN
Impressionado com o conhecimento de Muñoz, Anderson o convidou para abrir uma empresa. Ele descobriu apenas mais tarde que Muñoz tinha 19 anos e era totalmente autodidata. "No meu mundo, não importa quem você é, mas o que você é capaz de fazer", diz Anderson. "Você mostra quem é respondendo a perguntas em fóruns de discussão, disponibilizando demonstrações no YouTube e submetendo códigos no GitHub".
O GitHub é um site em que qualquer pessoa pode desenvolver softwares, e para os futuros programadores, contribuir com esses repositórios de código-fonte aberto se tornou uma outra maneira essencial de melhorar a reputação. "Ter uma conta no GitHub mostra que você é um colaborador apaixonado da comunidade", diz Forehand, da Jobspring. Sites de programação como CampFire, StackOverflow e TopCoder proporcionaram novas oportunidades que podem ser ampliadas por meio de redes sociais maiores, como Facebook, Twitter, ou o site de perguntas e respostas Quora.
MSN
Os empregadores estão seguindo essa tendência. Em janeiro, os clientes começaram a dar a Shah Amish, diretor-executivo da empresa de recrutamento em tecnologia Millennium Search, uma longa lista de sites dos quais os candidatos devem participar para que sejam considerados.
"As empresas nem considerariam os candidatos cujos perfis do LinkedIn tinham menos de 100 conexões", diz Shah. "Os candidatos tinham de tuitar ativamente sobre as coisas certas. Precisavam estar blogando e respondendo a perguntas no Quora. Um tiro certeiro seria publicar uma apresentação que fizeram em uma conferência com um vídeo no YouTube e slides no SlideShare".
MSN
As gerações anteriores podem ver esse alto grau de exposição como uma espada de dois gumes. Afinal de contas, responder a uma pergunta via Internet pode revelar não apenas perícia, mas também ignorância. No ecossistema online que está surgindo, porém, pode ser mais importante contribuir com a comunidade do que demonstrar um domínio individual.
"Uma comunidade não tem só a ver com relacionamentos - tem a ver com se tornar mais inteligente e melhorar no que se faz", diz o consultor de recursos humanos Jonathan Reed. "Você pode pensar que sabe alguma coisa, mas basta blogar a respeito que receberá 20 comentários dizendo que você está errado. Você e seus colegas prestam contas uns aos outros, e isso muda a maneira como pensamos a respeito da vida profissional".
The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.