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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Vendedor impõe garantia estendida como investimento "obrigatório" ao consumidor

por José Rabelo


O consumidor é sempre a parte mais vulnerável nas relações de consumo. É verdade que o Código de Defesa do Consumidor diminuiu um pouco os abusos ao regular essa relação com base na lei. Mas o consumidor ainda não está livre das ciladas do dia a dia, que são muitas.

A garantia estendida é uma delas. O consumidor, certo dia, depois de namorar por meses uma geladeira duplex ou uma TV de LCD, sai de casa decidido a adquirir o produto. Na loja, pechincha valores e tenta obter algum desconto mais vantajoso. Depois de comparações técnicas e estéticas, resolve dizer a frase mágica para o vendedor: “Eu vou levar”.

Fechada a venda, porém, chega a hora de o vendedor partir para as “ameaças”. Já imaginando o gosto da cerveja gelada pela nova duplex ou os jogos de futebol em alta definição que poderá assistir no conforto de seu lar quase como se estivesse na arquibancada, a ansiedade do consumidor começa a aumentar. Quer resolver a burocracia rapidamente e levar o “embrulho” para casa.

É neste momento que vem a cilada. O vendedor alerta. “Por mais tantos reais o senhor faz a garantia estendida. Pense bem. O senhor está comprando um produto caro. Imagine se a sua TV parar de funcionar após a garantia do fabricante [que geralmente é de 12 meses]. Sabe quanto custa o aparelhinho que é considerado a alma da TV de LCD, cerca de R$ 800, praticamente um terço do valor do aparelho? Se o senhor fizer a garantia estendida, ficará livre de todos esses aborrecimentos. Uma cliente minha fez a garantia, e no 13º mês a TV pifou bem na véspera na Copa do Mundo. A seguradora foi acionada e a cliente não precisou aguardar conserto. Deram logo uma TV novinha em folha para ela”.

O discurso, que segue mais ou menos está linha, costuma pôr medo nos consumidores. Que pensam logo que dizer não à oferta do vendedor seria praticamente virar as costas para a sorte que está sendo lhe dada. Ele pensa que se recusar o serviço e o aparelho apresentar um problema justamente após o fim da garantia será um castigo. O aviso do vendedor funciona quase como uma praga. “É pegar ou largar”.

Quando o consumidor bate o pé e avisa que prefere correr o risco, o vendedor fica um tanto decepcionado. Isso é sinal de que a praga não pegou. Não que a garantia não possa ser um bom negócio para os mais precavidos. Entretanto, uma pesquisa realizada recentemente nos Estados Unidos apontou que apenas 3% dos aparelhos eletroeletrônicos apresentam defeito antes de completar quatro anos de vida, ou seja, 97% vão funcionar perfeitamente, e de graça, a garantia estendida, que pode ser de  24 ou 36 meses, além dos 12 que normalmente vem no pacote do fabricante.

Entre o certo e o duvidoso, muita gente prefere não arriscar e se rende  proposta do vendedor. De acordo com a Susep (Superintendência de Seguros Privados), desde janeiro de 2008 os brasileiros gastaram quase R$ 2,1 bilhões em planos de garantia estendida, enquanto os sinistros (quebras de aparelhos) no período somaram apenas R$ 197 milhões, menos de 10% de ocorrências.

O custo da tranqüilidade é salgado. Os valores giram em torno de 15% do preço do produto final, é possível esticar o tempo em que o eletrônico pode ser reparado sem outros custos por um período que varia entre um e três anos depois do término da garantia da fábrica — que pode durar de 90 dias a dois anos, dependendo do caso.

Voltando ao exemplo da TV de LCD, a substituição da tela é equivalente ao preço do aparelho. Diante de previsões tão pessimistas, os próprios fabricantes aconselham o consumidor a optar pela garantia estendida.
Fonte: seculodiario.com.br - 24/01/2012

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