O estagiário do assessor do juiz...
(26.07.12)
Charge de Gerson Kauer |
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Por Antonio Augusto Biermann Pinto,
advogado (OAB/RS nº 33.967) e professor de Direito, em Santiago, RS
Repercute o texto do Dr. Lênio Luiz Streck, “A estagiariocracia”. Com o brilhantismo e acuidade habituais, o articulista - que é procurador de justiça no RS - aborda a proliferação de estagiários em órgãos públicos. A questão não é nova. Há muito se faz bem conhecida, e merece, realmente, ser debatida.
O Poder Judiciário, hoje, ao que se sabe, restaria ainda mais lento, quase inviabilizado, não fosse a atuação e o auxílio dos estagiários.
Como advogado e professir de Direito, reconheço a importância do estágio na construção pessoal e profissional dos acadêmicos. Noto o crescimento, em todos os níveis, dos acadêmicos que realizam estágios, especialmente o dos que o fazem junto à Magistratura, Ministério Público e Defensoria Pública. Tive, e tenho atualmente, alunos que são estagiários e desempenham com dedicação suas funções, sendo capazes de realizar as mais variadas peças processuais com brilhantismo e competência.
Contudo, o que preocupa a todos é a utilização desvirtuada dos estagiários, aos quais são atribuídas, de fato, tarefas e funções que não deveriam desempenhar.
Sentenças e acórdãos, como bem lembra o Dr. Lênio, são exemplos. A esse respeito, em abril de 2007, escrevi, aqui mesmo no Espaço Vital, um artigo denominado “Sentença exarada por quem não é juiz é sentença inexistente”. No texto apontei a pratica, de fato, por assessores e estagiários, do ato mais importante do processo: a sentença.
O perigo dessa prática, de todo condenável, é o de o juiz não ler, ou de não poder ler com o devido cuidado, as peças produzidas por outros, e que, ao final, acaba assinando como de sua produção, o que levanta questões outras que aqui não cabem.
Pois tal temor resta confirmado pelo próprio presidente do STJ, ministro Ari Pargendler, em entrevista publicada no Espaço Vital em 29/06/11: "O que se diz, e pode-se imaginar isso em qualquer lugar, é que os juízes assinam mais decisões do que eles realmente podem ler".
Não é difícil imaginar a frustração sentida pelos profissionais da Advocacia, e, por via de consequência, das partes por eles representadas, ao perceberem - e isso se capta de longe - que suas pretensões e resistências não mereceram, realmente, a análise daqueles que possuem a atribuição constitucional para fazê-lo.
É preocupante a utilização de estagiários para a realização de atos que não lhes cabem. Some-se a isso o verdadeiro martírio a que estão submetidos os servidores concursados, com o acúmulo de funções, sem receber qualquer remuneração ou vantagem para isso -, e assim temos o atual panorama do Judiciário gaúcho e brasileiro.
Recentemente, em uma determinada comarca, tive o privilégio de ser atendido por um querido ex-aluno, o qual me disse que ele é “estagiário do assessor do juiz”.
Realmente, Dr. Lênio, estoquemos comida e água. O fim, se já não chegou, está virando a esquina.
aabp1@yahoo.com.br
Fonte: http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=27742
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